O caído estava lá
exposto no chão
Todos que passavam
Só passavam
Até ai o caído
Mesmo exposto
Não se sentia tão caído
Mas alguem sempre vinha e chutava
Chutava o caído que exposto gemia
Gemia a dor mais profunda
Nada de dores que não fossem profundas
O caído só se sentia caído com o chute
O renegado era chutado
E o nervo exposto gemia de dor profunda
Não há dor maior que essa
A dor do chute no caído exposto
Mas entre um chute e outro
Ele apenas era caído
Tentando se levantar ele era exposto
Mas o caído era um selvagem
Um selvagem caído exposto e chutado
Desses que existem poucos por ai
Estão em extinção
O que há são chutadores mediocres profissionais
Eles andam pois não teem a capacidade de cair
Chutam pois não teem a sensibilidade de ver
Mas são chutes mediocres
Esses são os mais doloridos
pois são chutes que só deixam o exposto mais caído
Mas o selvagem resiste
Acredita que o chute dos mediocres
É passageiro
Como artista da fome o selvagem caído
Permanece exposto
Como quem representa a dor do mundo
Talvez os que não chutam
Sejam menos mediocres
Por isso o caído é exposto
Ele nos faz lembrar a dor da vida
Menos, claro, para os mediocres
Que sentem uma dor sem profundidade
E não poderia ser diferente pois o mediocre
Foi feito mediocre na sua propria mediocridade
... É isso
Viva o selvagem caído, eu!