2009-10-06

Sarrabuxo e tratratra


Andando pelas ruas da cidade, passando em meio a tantos e tão poucos de mim, preso em meus pensamentos, desviando de tudo vou até o fim. "Não sei onde estou indo só sei que estou no meu caminho". Passa velho, branco, negro, grevista e pelego; passa mulher bonita, feia, sem jeito e com jeitinho de moça prosa; passa pobre, passa rico, passa você e passa eu também; passa boi, passada boiada, mas aquela que quero nunca passa; passa mendigo, nordestino, argentino e sem destino. Nas ruas da cidade, em meio a prédios que arranham o céu, um formigueiro inteiro de HOMENS e coisas que parecem HOMENS. Tudo em movimento, cada um carregando sua própria cruz, vindos de lá, de cá e indo para qualquer lugar. Vejo os sofrimentos, as alegrias e eu, que não sinto nada, passo carregando todo o peso do mundo em minhas costas. Aquele pobre homem deitado no chão, esfarrapado e solitário, não é diferente de mim. Penso na flor que um dia esteve em meu jardim e esqueço um pouco de tudo que vejo, esqueço um pouco de mim. Caminho pelas as ruas da cidade para evitar que em meus pés nasçam raízes, quero balançar e simplesmente ao vento me desfazer como bola de sabão. Tem dia que me sinto um chiclete amassado num canto sujo da cidade, de vez em quando vem alguém e pisa levando um pedaço de mim na sola do sapato. Se me falta coragem, me sobra vontade e vou seguindo a passos leves e pesados na solidão que assola e consola. A cidade não para, só cresce, o de cima morre e o debaixo mata, o debaixo morre, o de cima oprime. No jogo limpo da cidade a trapaça é regra (RIO 171). Passa a policia, corre o camelô e escorrega na merda da calçada. A calçada é um monte de merda cercada de buracos por todos os lados. Por que não fazemos uma guerra de pedras portuguesas? Pega policia, pega ladrão, não fica um negão, nem brancão. A cidade tá sempre lá, vai-se o homem fica a cidade. O rabecão levou o homem que não era eu e outro já estava por perto, na fila para o necrotério. Hoje tem sopão de graça na praça, a cidade é uma graça. Vai chover? Será que vai da praia amanha? Quando acaba a greve dos bancos? Você vai assistir algum filme do festival? Que horas abre o puteiro da Lapa? Sem respostas para minhas indagações pouco filosóficas vou cagando e andando. Vou mijar andando e se dé mole pra mim eu como.

Você é má

Zeca Baleiro  

Composição: Joãozinho Gomes

Vá se danar!
Você dá nada a ninguém
Nem um olhar
Nunca falou tudo bem
Tem, mas não dá
Sorrir jamais lhe convém
Você é má
Mas há de ter um bem
Você dá nada a ninguém
Vá se danar!
Danada, não perde o trem
Sabe nadar
Mas nada sabe de alguém que sabe amar
Eu quero ser seu bem
Você é má
Você é maluca
Você é malina
Você é malandra
Só não é massa...
E você magoa
E você massacra
E você machuca
E você mata!
Vá se danar!
Você dá nada a ninguém
Nunca dará
Nem mesmo um simples amém
A deus dirá
Diz que não vai à belém
Você é má
Mas pode ter um bem
Você dá nada a ninguém
Vá se danar!
Danada, finge tão bem
Sabe negar
Jamais dá a quem tem demais pra dar
Mas eu serei seu bem
Você é má
Você é maluca
Você é malina
Você é malandra
Só não é massa...
E você magoa
E você massacra
E você machuca
Você mata!