2009-10-12


Micro conto sujo


Então a dona da pensão, um padre viado, marinheiro, que juntou dinheiro e comprou um prédio inteiro, colocou por debaixo da porta do meu quarto um bilhete abusado de cobrança:

Favor pagar o aluguel do quarto antes que
eu seja obrigado a tomar as medidas legais.
Ass.: Pe. Marcos

Eu não estava atrasado. O aluguel venceu ontem, Sábado. Só não tive tempo de entregar o dinheiro que já estava comigo desde Sexta. Bicha filho da puta. Peguei o dinheiro enrolei na merda do bilhetinho e fui até o quarto da bicha divina. Bati forte. A bicha não respondeu. Gritei. A bicha desligou a luz. 

- Tá com medo de quê viado, toma a porra do teu dinheiro e enfia esse bilhete no olho do teu cú.
- Pode por o bilhete e tudo por baixo da porta. 

Disse a bicha com voz trêmula. Sou um homem grande com cara de mal, ela deve ter se borrado toda.

- Se voce quiser seu dinheiro vai ter que abrir a porta.

A luz do quarto do padre acendeu e a porta abriu lentamente. A bicha filha da puta colocou só a cara pra fora. Puxei a porta com força bruta esmagando seu pescoço entre a porta e o portal. Ela gritou algo estrangulado que não entendi. 

- Escuta aqui viado de merda. Pega essa porra de bilhete enfia no teu anus. Nunca mais me cobre desta maneira indelicada. Eu sou um homem sensível, fico logo ofendido e quando isso acontece sou capaz das piores barbaridades.

Disse isso enfiando o bilhete com o dinheiro na boca da bicha sufocada. Soltei e ela ficou caída chorando no chão sujo da merda desta pensão horrorosa. Dei as costas, acendi um cigarro e com voz calma disse:
 - Boa noite Senhor Padre. 

No outro dia, ao sair para o trabalho, encontrei a bichona velha varrendo a portaria do prédio com um lenço enrolado no pescoço. Passei e ela, sorrindo, me ofereceu uma xícara de café. Bicha safada.

Dia santo


Hoje foi um dia de descanso da maratona de festas do fim de semana. No Sábado um casamento e no Domingo aniversário de um ano do meu sobrinho mais novo. Os dois eventos foram como esperados. Revi alguns amigos. Falei algumas merdas ao pé dos ouvidos e não fui capaz de comer ninguém. O que importa é que hoje foi feriado e pude curtir minha ressaca na beira da praia. Comecei a ler um livro de contos do Bukowski ("Ao sul de lugar nenhum") e um livro de auto-ajuda, acho que estou precisando, de autoria de Alexandre Lowen. Famoso psiquiatra, criador da Bioenergética, discípulo de Reich, dizia que o paciente deprimido é uma pessoa sem fé. Esqueci de mencionar o nome do livro em questão, chama-se "Medo da Vida", e quem não tem?
Agora imagine a seguinte cena: uma praia com um monte de mulheres bonitas e desprovidas de vergonha, usando biquínis que tapam só os orifícios, uma cadeira confortável de frente para o mar, uma bolsa térmica com algumas latinhas de cerveja gelada, os dos livros já mencionados e um monte de tempo livre. Esse foi meu dia de descanso. Isso é o que tenho para escrever hoje. O resto é silêncio e uma punhetinha no final da noite.