2007-12-26

O SELVAGEM CAÍDO

O caído estava lá
exposto no chão
Todos que passavam
Só passavam
Até ai o caído
Mesmo exposto
Não se sentia tão caído
Mas alguem sempre vinha e chutava
Chutava o caído que exposto gemia
Gemia a dor mais profunda
Nada de dores que não fossem profundas
O caído só se sentia caído com o chute
O renegado era chutado
E o nervo exposto gemia de dor profunda
Não há dor maior que essa
A dor do chute no caído exposto

Mas entre um chute e outro
Ele apenas era caído
Tentando se levantar ele era exposto
Mas o caído era um selvagem
Um selvagem caído exposto e chutado
Desses que existem poucos por ai
Estão em extinção
O que há são chutadores mediocres profissionais
Eles andam pois não teem a capacidade de cair
Chutam pois não teem a sensibilidade de ver
Mas são chutes mediocres
Esses são os mais doloridos
pois são chutes que só deixam o exposto mais caído
Mas o selvagem resiste
Acredita que o chute dos mediocres
É passageiro
Como artista da fome o selvagem caído
Permanece exposto
Como quem representa a dor do mundo
Talvez os que não chutam
Sejam menos mediocres
Por isso o caído é exposto
Ele nos faz lembrar a dor da vida
Menos, claro, para os mediocres
Que sentem uma dor sem profundidade
E não poderia ser diferente pois o mediocre
Foi feito mediocre na sua propria mediocridade
... É isso

Viva o selvagem caído, eu!

2007-12-04

Fabrica de Burros



"A televisão me deixou burro
Muito Burro, demais


Agora vivo dentro dessa jaula junto dos animais


A TV me deixou de quatro pelo resto da vida..."


(Titans)



Amigos, tem gente por ai comemorando o avanço da TV digital, uma beleza, todo mundo vai poder ver televisão em qualquer lugar, dentro do onibus, na escola, no circo, no teatro, nas praças, na igreja, na boate e até na mesa de jantar... Conversar pra quê? Namorar para quê? Ler? Livro? Oi, estamos no século XXI, livro é coisa do século passado. Na TV o anúncio é bacana: o marido não quer conversar, mas a mulher fica feliz, pois com a chegada da TV digital ela vai ter dialogo, com a TV, claro...

Mas eu não vou ficar aqui dando uma de "reaça"... Não sou de chorar... Se é isso que vcs querem otimo, compre logo uma pequena TV e não percam o seu programa preferido, vocês devem ter algum... Tem tanta coisa boa na televisão, tem aquele programa de fofoca, aquele outro de violência, tem o de propaganda, o de novela mexicana e claro aquele programa super divertido, o Zorra Total...

Viva a TV digital! O mundo cada vez pior pertinho de você!



















Consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma, consuma...

2007-12-01

Teatro - O Lúdico Circo da Memória

O Lúdico Circo da Memória está em cartaz no Galpão Cine Horto. Trata-se de uma montagem teatral que comemora os 10 anos de Galpão Cine Horto. Na edição especial do Oficinão 2007, foram convidados como coordenadores o Diretor Francisco Medeiros, a preparadora de atores Tiche Vinna e o Dramaturgo Luiz Aberto de Abreu, três artistas de qualidade superior.

Dez atores seguiram até o fim na construção colaborativa do espetáculo, o resultado é incrível e qualquer esforço que se faça para ver esta peça é recompensado em dobro pelo belíssimo trabalho apresentado.

Quem assina a direção musical é o talentoso musico Fernando Muzzi. O figurino é de Paolo Mandatti que tem uma assinatura marcante mesmo com toda a simplicidade exigida pelo diretor. O cenário foi criado por Inês Linke e surpreende pelas possibilidades de ação e planos que oferece. Nada passaou despercebido pelos diretores Francisco Medeiros e Tiche Vianna, o espetáculo é todo afinadinho, qualquer nota desafinada pode ser o abismo, por isso os atores têm uma missão muito difícil, tocar este instrumento com o devido refinamento todas as noites. A dramaturgia foi retirada das narrativas apresentadas por cada ator e cuidadosamente adaptadas pelo mestre Luiz Alberto de Abreu. O texto é delicioso e a platéia saboreia junto com os atores. A luz é delicada e sensível, o jovem iluminador Felipe Cosse tem a sensibilidade necessária dos grandes iluminadores.

Ressalto aqui, para conhecimento dos meus queridos leitintes e amigos, o trabalho fenomenal do elenco, há um equilíbrio digno dos melhores grupos que conheço, juntos eles constroem um ambiente aconchegante e refinado. Gisele Milagres, Gisele de Paula, Mariana Coutinho, Manuel Cerejo, Dora Sá, Cristiano Morais, Ronilson Otávio, Maíra Cesarino, Luciana Bahia e Suzana Santos são os responsáveis pelos suspiros da platéia, e não são poucos.

A pesquisa e processo duraram oito meses e não foi fácil, todos estavam à flor da pele, mas os dez sobreviventes desta difícil trajetória, de dedicação integral, deram provas de que mergulhar no processo é a formula para um belo trabalho.

Bom teatro todo mundo gosta, por tanto, saia um pouco da rotina e venha ver esta maravilhosa peça.

Lúdico Circo Da Memória
22 de Novembro a 23 de Dezembro
Quinta a Sábado 21h, Domingo 19h
Galpão Cine Horto - 10 anos de ação
Rua Pitangui 3613
Belo Horizonte - Horto
(31) 3481-5580

2007-11-26

FAN - Festival de Arte Negra

Queridos leitintes, Belo horizonte é Belo Horizonte... Acabou ontem o FAN - Festival de Arte Negra, foram 8 dias de arte na veia, momentos de muita emoção. Na primeira noite fomos presenteados pelo povo do deserto, um grupo formado em um campo de refugiados da região de Timbuktu, Mali. Tartit é uma banda de Tuaregs constituída por cinco mulheres e quatro homens, foi emoção do início ao fim. Na segunda noite foi a vez da dança contemporanea, "waxtaan" da Cia Jant-Bi (Senegal), pura energia, dificil ficar parado. Depois fui ver o Grupo FAN aqui de BH com o espetaculo "Arvore do conhecimento", foi bom, mas poderia ser melhor... Sei que no sabado eu vi uma das coisas mas inquietantes que já tive a oportunidade de ver, o espetáculo "Zumbi Somos Nós", do coletivo Frente 3 de Fevereiro (SP)... Tapa na cara "...O Brasil tem tradição escravocrata, a direita tem tradição escravocrata, a esquerda tem tradição escravocrata, os negros tem tradição escravocrata...", os caras não medem esforços para combater o racismo, eles saem as ruas, fazem da arte um instrumento de luta... Vi duas vezes no mesmo dia, uma aula de negritude.
Foi uma pena ter acabado este festival, foram shows em praça publica e arte de graça, a organização está de parabens, mal posso esperar pelo ano quem vem...


2007-11-09

Depois de Paulo Autran


Amigos e leitintes. Depois de Paula Autran chegou minha vez de ser o melhor ator do Brasil e "adjacências", parece mentira mas fui indicado ao premio de melhor ator pelo filme Queijo Ralado que fiz em parceria com Claudio Garcia.
Eu não sou de me gabar, mas fizemos um bom trabalho. Tudo começou quando Claudio comprou uma camera bacana... Depois criamos os 10 mandamentos do Thosco/06, daí forçamos nossas mulheres a atuarem no filme e chamamos um amigo advogado pra ser o camera man.
Também fomos indicados a melhor filme, melhor roteiro e melhor edição.
O resultado vcs podem conferir no YOUTUBE (Primeira parte) http://br.youtube.com/watch?v=iAo4zwU2Ha0 (Segunda parte) http://br.youtube.com/watch?v=iAo4zwU2Ha0

Os 10 mandamentos do tratado “THoSCO/06”.

1) É proibido uso de roteiros escritos. A história deve surgir de idéias propostas pelo diretor, discutidas e combinadas na hora da gravação.

2) É proibido fazer personagens com outros nomes. Todos devem ter os próprios nomes dos atores.

3) Os atores estão proibidos de decorar texto e de saberem o enredo do vídeo antes da hora da gravação.

4) É proibido ensaiar qualquer cena.

5) Repetir cenas só para fazer contra planos ou por erros tecnicos e operacionais com a câmera. Se o ator errar, rir ou olhar para camera o erro deve ser absorvido.

6) O formato utilizado deve ser vídeo(miniDV).

7) É proibido o uso de qualquer tipo de iluminação extra. Deve ser usada a luz do ambiente.

8) A operação de câmera pode ser feita com tripé ou na mão, pelo diretor ou elenco, salvo nas situações em que todos estão em cena, inclusive o diretor.

9) É proibido o uso de microfones externos. Todo audio deve ser gravado com o microfone embutido da câmera.

10) A edição é livre e não segue nenhuma das regras anteriores.

2007-10-24

Homenagem a mulher negra. Desprezo Pelas Crias - Cristiano Ottoni

É fato incontestado que, enquanto era baixo o preço dos escravos, raras crias vingavam nas fazendas. Viajava-se pelos munícipios se Piraí, Vassouras, Valença, Paraíba do Sul, observando os eitos do serviço... Quase tudo africanos, notava-se uma exceção, e não havia muitas outras, de uma grande fazenda cujo proprietario orfão se educava em um outro país estrangeiro, essa povoava-se naturalmente por crioulos, para quê?

Por contrato, uma parte que vingava pertencia ao administrador; sempre o interesse.



Em todas as palestras entre fazendeiros se ouvia esse calculo:



"Compra-se um negro por 300$000; colhe no ano 100 arrobas de café, que produzem liquido pelo menos o seu custo; daí em diante tudo é lucro. Não vale a pena aturar as crias, que só depois de 16 anos darão igual serviço".



E em consequencia as negras pejadas e as que amamentavam não eram dispensadas da enxada; duras fadigas impediam em umas o regular desenvolvimento do feto, em outras minguavam a secreção do leite, em quase todos geravam o desmazelo pelo tratamento dos filhos e, daí, as doenças e morte as pobres crianças. Quantos cresciam?
















E assim construímos o novo mundo.











2007-10-23

Gente estética



Com um olhar firme e seguro, vou buscar nos meus antepassados algum tipo de argumento que nos faça refletir sobre o que se passa, as vezes , na cabeça do artista brasileiro... Chamo aqui nestas minhas palavras, Grotowski, Lope de Vega, Artaud, Bertolt Brecht, Stanislavski, Zé Celso, Yan Michaski, Rubens Corrêa, Vianinha, Nelson Rodrigues, "Geraldo" Tomaz, Antunes Filho... Todos esses e outros que de alguma forma fortalecem nossas crenças e qualidades artisticas.

"A arte não é regida por principios democraticos"

"A mise en scene só existe na pratica"

"Não há classes no teatro"

"Devemos cultivar a palavra. Não deixa-la sucumbir às pressões de nossa época. As novas gerações desprezam a palavra porque elas foram superadas pela imagem"

"Critica ao essencialismo - Quando você chega lá, não ha lá, lá!"

"Enquanto artista, quanto mais tempo o ator permanecer uma criança, melhor. A maturidade precoce, sob a forma do compromisso, não faz bem algum"

Hoje fomos ver "Geraldo"

Será que o nome tem haver com o diretor Gerald Thomas, acho que não.

Estéticamente era interessante, tinha video, cenário com dois ambientes, o fora e o dentro, luz em perfeita hamonia, gente estética que fez a lição de casa. Pós moderno? Contemporaneo? Dissso eu nao entendo, por isso não poderia falar sobre isso. Quero falar de vida, gente estética morreu, sucubiu na propria soberba, se esqueceu de comunicar, foi buscar na plástica a falta de comunicabilidade. Esse tipo de arte tem classe, classe social, teatro para altas camadas da sociedade, gente que gosta de pensar. Foi pensando que sai do teatro, foi pensando que me fiz perguntas e pensando escrevo aqui agora. Onde foi parar a poesia? O suspiro de se estar no teatro? To falando do que vi ontem, nenhuma lamentação existencialista, tem muita gente por ai que faz teatro "Contemporaneo" com conteudo e desafio.

Sabor: Gosto de ir ao teatro e esquecer que estou no teatro, só pra lembrar em alguns momentos e suspirar. Ontem fui ao teatro e tava lá no teatro, vendo o teatro sai do teatro. Foi como ir ao teatro olhar e sair, confesso que um pouco triste de ver tanto desperdicio, tanta falta de rigor, tanta possibilidade jogada fora.

Sou do tipo que prefere ver um babuino gritando doque ver um monte de macacos fingindo que são macacos. O texto, na minha opinião e na do Chaplin, se for dito deve ser dito como quem diz alguma coisa e não como quem simplesmente diz alguma coisa, esse "simplesmente dizer" não cabe no teatro, em nehuma arte, se for pra simplesmente dizer não diga, guarde pra você. Por isso o Carlitos dizia tanto sem dizer uma palavra.

O manual do teatro contemporaneo, pos moderno, é vendido nas melhores casas do ramo, desde de 1970/80 a gente trava esse duelo com o modernismo, a gente não, os Americanos, a gente tava vivendo a possibilidade da abertura e da anistia politica. Penso ainda no teatro sem classe, desses que minha mãe vai entender, digo entender... Coisa que alguns tentam dizer que está fora de uso. Entender o que? Entender o que se diz, como se diz. Não digo a historinha, digo a historia. Ali, no momento presente, a historia daquele ser em conflito, em conflito de morte! A beira da loucura! Ator usando seus musculos, sua voz, sua alma para nos proporcionar um momento de magia pura, de encontro com um ser novo.

Nem sei bem do que estou falando, mas de uma coisa é certa, se estou falando é por pura nessecidade.

Viva o que é vivo!

2007-10-20

Tropa da Elite - Elite com tropa - Ficção/realidade, a merda tá fedendo

Meus amigos e queridos leitintes, tenho acompanhado de perto as discussões, debates, gritos e grunhidos em torno do famigerado filme Tropa de Elite... O diretor José Padilha que na epoca de Onibus 174 foi aclamado como diretor de extrema esquerda, agora, as mãos que um dia o acariciaram esbofeteiam, ele é "dedado" como extrema direita.

O fato é que o filme foi feito e tá ai pra quem quiser ver, já estava antes de lançarem no cinema, nas melhores bancas de camelo perto de você. Depois do lançamento oficial continua dando muito pano pra manga e dinheiro no bolso dos que fatiam este bolo.

Tenho lido artigos que defendem o filme por ele ser artistico sem compromisso ideologico. Tenho ouvido barbaridades sobre o Wagner Moura. Tenho visto a esquerda dizer que o filme reforça ideologia burguesa da violencia para conter a violencia. Tem gente que acha que o filme é bom pois faz com que a gente entenda melhor a merda em que vivemos.

Tropa de elite tá ai pra quem quiser ver, por tanto façamos os debates devidos e vamos parar com a choradeira...
Já ouvi gente dizer na rua coisas de vários tipos depois de verem o filme, seguem algumas: - "Se existe uma policia "dita" honesta é porque a outra todo mundo sabe que é desonesta". - "Que musica horrível, que dizer que eles entram na favela pra deixar corpo no chão". - "Nunca gostei de policia, pra mim é tudo bandido, esse filme fica tentando dizer que tem uns ai melhores que os outros, mas pra mim é tudo farinha do mesmo saco".

O fato é que a merda ta fedendo, esse dias no jornal mostraram dois rapazes sendo fuzilados pelo helicóptero, disseram que estavam se defendendo, mas todo mundo viu que os rapazes estavam correndo feito desesperados para salvar suas vidas e sem arma. Podiam ter parado de atirar.

O assunto foi lançado, nosso problema não é o filme e sim a realidade do morro e da policia que é despreparada, corrupta e violenta... Neste caso temos que pensar, também, naqueles que fazem o serviço sujo, os policiais. Em sua maioria vitimas da própria ignorância. Tão ignorantes quanto os que são bandidos nos morros.
Resumo da cituação:
A classe média não consegue raciocinar direito, a burguesia fede, os intelectuais cagam regra de esquerda festiva entre um baseado e outro, os universitários gritam palavras de ordem entre um baseado e outro, as crianças morrem com um saco plástico na cabeça, os negros são excluídos no Apartheid brasileiro, os índios são queimados vivos, a vida passa mau e a merda não vai dá pra todo mundo.
O bom do filme pra mim, foi o que veio depois, o próprio debate.

Wikipédia:

Tropa de elite é um termo normalmente utilizado para designar unidades militares com treinamento excelente e armamento superior, destinadas a agir de forma decisiva em ações militares.Em épocas passadas, compunha a guarda pessoal de grandes figuras do Estado, como, por exemplo, os mosqueteiros dos reis da França, ou a guarda pretoriana do imperador romano, ou ainda as cortes urbanas da Roma republicana. Atualmente, compõe unidades militares dos exércitos dos Estados, com função de manter o território nacional a salvo, guardando e fiscalizando áreas estratégicas, além de intervir em casos de emergência. Além disso, formam a inteligência e a contra-espionagem.

Cuidado com o caverão eles entram na favela e deixam corpo "NU" no chão - que merda!





Olha ai CUZÃO!
Abaixo um comentario bem humorado de um amigo diretor de teatro, Walter Daguerre:
Homem de preto
Qual é sua missão?
É invadir favela
E deixar corpo no chão
Pra quem não pescou, essa é a canção que os soldados do Bope cantam enquanto fazem seus exercícios matinais (isso eu li na coluna do Zuenir Ventura, mas como eu servi o Exército, sei bem que essas musiquinhas são variações do mesmo tema). Quer dizer, o recado está dado. E está explicado também porque o Luciano Huck desabafou "Chamem a Tropa de Elite" quando foi assaltado em São Paulo. Porque se os homens de preto sobem favela e deixam corpo no chão, no fundo eles são a Tropa DA Elite. Outro dia, num almoço de domingão, meu sobrinho perguntou: "Tio, você já viu Trepada de Elite?" Minha irmã conteve o riso e repreendeu o menino com severidade. Mas peraí? Por que as crianças podem brincar nas portas das escolas gritando: "É faca na caveira! É faca na caveira!" - como eu vi anteontem no Humaitá -, mas não podem brincar falando Trepada de Elite? Trepada é melhor, tem humor e lembra o bom evelho slogam "Faça amor, não faça a guerra". Seria ótimo se, ao invés de uma Tropa DA Elite, nós tivéssemos o luxuoso auxílio de uma Trepada de Elite. Daí a música dos soldados seria:
Homem de preto
Qual é sua missão?
É beijar na boca
E fazer amor no chão.

2007-10-18

A velha saudade de sempre

Hoje indo para minha aula de canto, aqui em Belo Horizonte, passei por dois onibus escolares cheios de crianças, um dos onibus era do grupo dos repolhos e o outro era do grupo dos beterrebas. Foi aquela disputa, de um lado uns gritavam Repolho! Repolho! O outro grupo respondia Beterraba! Beterraba! Eu, claro, chorei, lebrei que eu já fui do grupo dos repolhos ou coisa parecida.

Isso me fez pensar... Coisa rara... Sei que o mundo mudou, estamos vivendo o aquecimento global, mas quando se é criança isso tudo é bobagem, a gente vive sem medo. Parece que quando a gente vai tomando maior conhecimento da morte, vamos ficando com mais medo, dai ficamos responsaveis, dai temos que pagar as contas, dai vem a coisa toda e ai vamos ficando chatos e perdemos aquilo simples.

Não estou dizendo para sairmos por ai gritando repolho ou beterraba ou qualquer outro grito de vida. Só parei pra peceber que não é o mundo que vai ficando pior, nós é que perdemos a capacidade inocente de rir e ser feliz sem compromisso.
Por isso digo, já que o mundo está acabando, tire um dia de folga e vá fazer um aula de canto.

2007-10-01

Pra chamar de qualquer coisa


ESPELHO

Mas também você quer o que?
Você pode começar por colocar seu filho numa escola publica
Depois participar da educação do seu filho
Se juntar a outros pais e cobrar da escola um bom desempenho
Mas eu não tenho tempo, preciso trabalhar pra pagar minhas contas.
A escola do meu filho
O plano de saúde
As contas da casa de praia
IPVA de três carros
Minha academia
Eu tenho que trabalhar muito
Não posso ficar preocupada com a educação do meu filho.
O seu marido também trabalha?
E muito
Pra a gente poder manter nosso nível de vida
O que você acha da violência?
Olha! Eu sei que você vai dizer que nós temos culpa de tudo o acontece no Brasil
Nós quem?
A classe media
Nós que pagamos impostos para sustentar aqueles que não querem trabalhar
Pobre é tudo vagabundo
Você tem empregada em casa?
Tenho
O que você acha dela?
Ela é ótima, mas não tem estudo.
Você viveria sem a sua empregada?
Claro que não...
É ela quem leva o Junior pra escola
Lava a roupa, passa.
Trabalha duro mesmo
Ela é pobre?
É. Mas é diferente
Onde ela mora?
Acho que em uma favela lá em Campo Grande
Você sabe que horas ela sai de casa?
Você já foi ver a casa dela?
Sabe se os filhos dela têm companhia para ir a escola?
O que você quer que eu faça?
Ela não estudou!
Se ela tivesse estudado, seria sua empregada?
Claro que não, seria, talvez, medica!
E quem iria cuidar da sua casa?
Outra qualquer, que não tenha estudado.
Essas pessoas não podem culpar a gente pela merda em que enfiaram suas próprias vidas
Você acha que seu filho tem a mesma chance na vida que os filhos de sua domestica?
Claro que sim
Tem que se esforçar
Sei lá, correr atrás.
Arrumar alguma coisa pela qual ele se apaixone
Eu não sei e a culpa não é minha
E se eu lhe dissesse que o filho da sua empregada
É uma pessoa de posses
Que tem muito poder
Que faz o que gosta
Desde cedo mostrou talento
E agora é quase um comandante
Olha. Eu fico feliz, deve ter se esforçado.
Esse tipo de gente quando gosta de uma coisa vai longe
Posso lhe perguntar o que ele faz da vida
Ele é traficante de Drogas
Comerciante
Só podia ser
Esse tipo de gente ou vira Bandido
Ou pagodeiro
Ou jogador de futebol

De que tipo de gente você esta falando?
Você sabe
Não posso falar alto se não me processam
Fala
Eu guardo segredo

Tá, esses negrinhos.
Sempre tiveram muito talento para o roubo
Mas trabalhar mesmo só a base da chicotada
Você vai me desculpar, mas eu não tenho tempo, não inventei essa regra da vida.
O certo é o seguinte
Eu estudei
Sou Médica

Trabalho bastante, pra inclusive manter a minha empregada.
E tenho que ficar de olho se não ela me rouba
Por isso, posso ter o que quiser...
Vou até comprar outro apartamento
Quero que meu filho
Estude numa boa faculdade publica
E já comece sua vida com um bom apartamento
Uma pena se o filho da coisinha é bandido
Como já disse, não tenho culpa...
Tomara que morra antes que queira matar um inocente, como meu filho.
A policia tem que matar logo pra que a gente possa continuar vivendo em paz.
Mas uma ultima pergunta,
Você acredita em Deus?

Claro, vou sempre à igreja...
Sou uma pessoa de muita fé
Então, pra finalizar, você sabe rezar?
Sim, por quê?
Você vai precisar...
Reza piranha!
Fulano puxa uma arma e sem pena lhe dá um tiro certeiro
Ela cai morta
De mãos juntas como quem reza.
Reza Piranha!
Seu corpo ainda fica um tempo estrebuchando
E logo se congela em meio ao sangue.
Culpada! Reza Piranha...


Matei tudo de ruim que havia em mim.

2007-09-24

Mano Brown - Figuraça da semana

Qual não foi minha supresa ao passar pela TV cultura e encontrar o Mano Brown dando uma entrevista no Roda Viva, foi uma lenhada atras da outra. Gostei muito de ouvir essa figuraça que é lider da banda Racionais MCs. Uma visão menos romantica da vida na favela. O cara tem uma capacidade de mostrar uma situação, sem essa de guerra, sem essa de ficar julgando a bandidagem, que ele chama respeitosamente de comerciante. Da pra ver claramente o que é respeito, uma outra especie de sabedoria, um tipo de homem que não fica floriando o raciocinio, nem fazendo discurso pra burgues achar bonito, é na lata, na raça... Com uma consciencia nativa, com uma visão de quem sabe como são a coisas... Sem sonhos e devaneios. Gostei de ver um cara que estudou só até a oitava serie, que faz uma poesia firme, digna, que tem uma inteligencia da vida, uma consciencia de si mesmo sem a vaidade daqueles que estão procurando ser reconhecidos. Um lider sem a pretenção de ser. Eu fico imaginando a vida que esses caras levaram, é só o que posso fazer, imaginar. Eu nao sou muito fã de Rip Rop, mas sempre admirei esse tipo de atitude, firme, de senso critico e malandragem refinada, são poucos esses poetas. Esses inventam o proprio modo de viver e sobrevivem como animais e por isso superam as espectativas da raça humano. É uma luta de vida. Um guerreiro admiravel.
Como é que é Mano Brown...

As coisas não vão bem

Tá foda essa vida de artista solitário, depois que sai do oficinão tem sido dificil minha permanência aqui em BH. To muito afim de fazer o curso de dança com a Dudude mas não tá facil conseguir a grana para isso... Acho que estou aqui só pela Dora, acho eu... A galera que tá se formando, como grupo, lá no oficinão, tambem me dá uma ponta de esperança de ter um grupo para trabalhar, mas não tá facil viver aqui. O super night shot foi otimo, me deu uma visibilidade bacana, algum dinheiro, mas ficou nisso, aquilo não vai pra frente, se ainda fosse eu poderia viajar daqui e ai tava tudo bem, teria grana e tempo pra fazer as coisas que quero por aqui. A Dora tá lá afundada no processo e não tem muito tempo pra ficar discutindo relação, essas coisas... Diz ela que quer mudar de vida, vida nova então, mas tá dificil viu... Sozinho, montando um monologo, onde serei o diretor e o ator, tentando escrever um projeto de uma otima ideia pra o grupo daqui fazer no ano que vem... Essas coisas de sempre... Não estou dizendo que se estivesse no Rio estaria melhor, acho que é mesmo a coisa de trabalhar com teatro, com 33 anos acho que não estou conseguindo, as pessoas sempre me dizem que tem de ter um paralelo, que não dá pra viver de teatro, essas coisas, mas eu sou mesmo um cabeça dura e vou me esbofetiando pela estrada... To tentando ser forte... Mas tá dificil a coisa toda.

Merda!

2007-09-19

Macaco Pelado - conversa com os amigos.

Ola, queridos leitintes e Macacada em geral. Voltei a ter internet em casa, apois um longo periodo de lan, a coisa toda voltou ao normal... Posso dividir aqui no cantinho as coisas me atravessaram nestes meses de cidade nova.
Pra não perder o costume estou me "intituleijando" como Macaco Pelado. Logo os leitintes vão entender doque se trata essa brincadeira.


Vamos falar um pouco de BH. Ontem eu fui ver os dançarinos de belo horizonte, foi otimo ver as possibilidades do movimento, a expressão do corpo no espaço, coisa pela qual venho me interessado cada vez mais. Quando sai do Rio, logo depois de ter estreiado o Monologo da Puta no Manicomio, trouxe comigo uma série de questoes, o trabalho com a Mirian foi muito produtivo. De alguma maneira eu achava que BH me levaria a repensar meu teatro... De alguma maneira é o que está acontecendo, memo por ser um desejo meu. No encontro de dança, ontem, fiquei pensando sobre essas questões.

Hoje fui a praça da Liberdade, uma linda praça, que faz parte do Complexo Liberdade. Tá acontecendo o Usiminas Festival, um palco foi armado para shows musicais, outro mais moderninho e a peça de teatral O Circo do Lixo, do projeto Pé na Rua do Galpão Cine Horto. Fui ver a peça. Se era boa ruim não vem ao caso, o fato que é um lindo encontro, plateia e artistas no meio da Rua.

Ainda não pude dizer aqui, mas, não estou no Oficinão. A Dora está, tive que sair para fazer o Super Night Shot. Foi uma decisão dificil de ser tomada, agora estou sofrendo as consequências, o Super Night Shot já acabou e eu estou tendo que me virar por aqui, se estivesse no Oficinão estaria sem dinheiro, agora estou com um pouco de dinheiro mas não estou no oficinão. A galera lá verticalizando em uma montagem de peça, nunca vi um processo tão profundo como este, e eu aqui no meio dessa cidade, com uma variedade imensa de artistas, pensadores e etc...

Tenho visto o maximo de peças que eu posso, agora quero fazer aula de Dança com a Dudude, foi ela que me convidou pra ver as experimentação de ontem. Conheci a Dudude no oficinão, ela é a preparadora corporal, que mulher é essa... Uma loucura de potência... Ficamos todos apaixonados por ela, agora que não estou mais no oficinão, vou fazer o curso de dança com ela. Uma loucura!

Mas eu não sou mesmo de ficar parado, já estou desenvolvendo duas ideias, um projeto para o grupo que esta se formando a partir dos encontros do Oficinçao 2007 e um monodrama, sim, quero eu mesmo viver o que fiz a Mirian e a Aline viveram, um monologo. Pra dificultar vou fazer ele na Rua. Ainda escolhendo material, sobram algumas ideias e to na rua logo. Quero tentar fazer Angra e Curitiba no Incio do ano que vem e estrear esse ano. Daí a coisa com o Macaco Pelado, quero fazer algo neste sentido. Inspirado no Barão de Itararé de Marcio Vito, uma conferencia sobre o macaco pelado, com um professor estranho, um morador de Rua, um Zoologista moribundo que pesquisa o ser humano. Um cientista. Logo vcs ficaram sabendo dessa nova empreitada. O fato que só consigo pensar nisso, a vida ai cheia de contas pra pagar e eu sonhando em dar minha cara pra bater. Vida maluca essa de Macaco Pelado.

Não sei se estou sendo claro, não estou muito preocupado com a forma com que estou escrevendo isso aqui, pensem em uma conversa. Tudo xadrez!

2007-09-18

Que tipo de plateia nós queremos - Reflexões

Hoje aconteceu uma coisa impressionante, o publico reagiu. Boicoite ou intervenção, o fato é que uma pequena parte se manifestou. Foi otimo, em se tratando de um espetáculo de dança improvisacional, onde o publico junto com os artistas caiem no risco do inusitado. Trata-se do projeto "Momentum - composição no instante", são escolhidos 3 dançarinos e eles tem que improvisar em pleno desapego, se fazendo e desfazendo, em constante devir de mudança. Feito a devida apresentação vamos ao fato que nos refletir durante 40 minutos depois do espetaculo em um debate.

O publico ficava na plateia do teatro e também em uma arquibancanda sobre o palco. Um grupo de jovens se colocou nesta arquibancanda. O coisa toda começou e alguns destes jovens se manifestaram com sons, ou palmas em horas não esperadas. O coordenador do projeto se sentiu incomodado e "interviu na intervenção". Como tudo isso aconteceu no palco o público que estava na palteia percebeu que algo estava estranho, eu mesmo, achei que o coordenador fosse o professor dos jovens que não havia aprovado a ação legitima dos meninos. No debate nós ficamos sabendo o dialogo da ação; o coordenador disse para os rapazes que não estava certo intervir daquela maneira. O garotos se defenderam dizendo que eles estavam se sentindo impelidos a participar, pois desde o momento que eles entraram no teatro já não eram simples espectadores. Alguns disseram que concordavam com o coordenador, que ali era o momento apenas de observar, outros, como eu, achavam legitima a manifestação e que não havia nos rapazes um manifestação de boicoite.
Eu, particularmente, como artista de Rua, gosto de ser desafiado pela plateia, por tanto adoraria que o publico de minhas peças me jogassem coisas ou falassem comigo... São tantas as maneiras de reagir, inclusive a meneira com que o cordenador reagiu, pra mim foi tudo muito instigante. O debate foi lindo e todos nós refletimos sobre a participação da plateia.

Na musica o comportamento passivo é quase compreensivo, trata-se de tempo musical, partitura, da escuta dos musicos para que eles possam executar a obra com perfeição... Em arte cênica a coisa é mais no devido contato, a plateia e o artista estão ali em pleno encontro, num desafio de parceria, não de competição. Cabe ao artista refinar suas respostas e compor a partir dos estimulos recebidos. Uma vez eu vi o Sivuca para o show e brigar com a plateia que estava batendo palma, dizendo que aquilo e musica não combinavam, foi meu arrogante, mas enfim.

Passo rapido por esse assunto não com respostas mas com muita reflexão sobre o comportamento da plateia.

2007-08-16

Ruy Filho - Sobre o Super Night Shot















GOB SQUAD: É possível ir além das convenções teatrais

Não falo apenas sobre estruturas aparentemente rígidas como personagem, enredo, conflito, diálogo; tampouco de mecanismos como iluminação, cenografia e sonoplastia. O teatro se faz com isso tudo, sim, mas também na armadilha da manipulação desses elementos, na escolha pela ausência de um e outro, no desconstruir parâmetros clássicos.
O coletivo britânico-alemão Gob Squad, traz de volta a São Paulo, no Sesc Paulista, a performance teatral Super Night Shot, onde quatro atores, com objetivos individuais e uma meta em comum, saem às ruas com filmadoras, pelas quais registram a si mesmos durante uma hora.
Super Night Shot arrisca manter o tradicionalismo da linguagem teatral adequando-a a uma forma performática, e estabelece, através da presença de personagens, o paradigma de onde então se situa o teatro.
A opção próxima a da performance em manter o próprio indivíduo como base arquetípica contrapõe-se pelo jogo narrativo sugerido pela direção, quando quebra o realismo e parte ao espaço público, urbano sobretudo, para intervenções explicitamente irreais.
Sabemos ser o herói apenas um ator, não mais pelo estar sobre um palco, mas pelo não-reconhecimento dos aspectos pelos quais lemos um herói. Entendemos a fraude do falso personagem e aceitamos como uma convenção teatral. Dessa maneira, a desconstrução original serve a reconstrução clássica, quando o ator passa a ser instrumento de uma personagem para que dele traga à tona um conflito, a narrativa decorrente e um objetivo moral.
No fim, trata-se de questões morais. A relação com o meio, a manifestação dessa relação em contextos sociais e culturais, a padronização de comportamentos. Super Night Shot invade todas essas questões para acrescentar ruído à maneira como as percebemos. Escancara pela inadequação um espelhamento do que temos por correto moralmente. E enquanto nos percebemos divertindo-se com essa oposição, não nos damos conta da quebra de tradições e alto teor provocativo sobre nossas certezas.
Gob Squad apresenta a possibilidade concreta de irmos além das convenções sem necessitar entretanto de um rompimento com a base clássica. Eficaz teatro aonde a performance, música, vídeo e interpretação vão além da obviedade permeando a improvisação por regras objetivas e um sistema formal de soluções práticas.
Competir com o teatro das salas de espetáculo requer competência e criatividade. O que não parece ser uma dificuldade para o coletivo.
Porém, um processo que se estende conceitualmente desde meados dos anos 90, mostra-se paralelamente esgotado em si mesmo, quando necessita a superação do estágio atual por outras fórmulas de sustentação. A surpresa irônica perde força em uma segunda olhada para permanecer apenas como uma boa idéia. Única? Talvez.
Será preciso buscar na própria estrutura original do pensamento dos artistas outras motivações capazes de aprofundar o ir às ruas, o trazer o público como coadjuvante. Do contrário, como já se vê por aí, outros surpreenderão como novos dizeres, nem sempre melhores ou tão bons.
posted by Ruy Filho at 12:50 AM

2007-07-30

AFCÇÕES - Nós todos, juntos, tudo... Somos Deus!

Difícil dizer o que passa na minha cabeça agora, eu tenho mudado a cada esquina e foram tantas. Tantos encontros, paixões alegres, despedidas, sempre em relação, nunca to sozinho.

Procuro viver cada momento. Aproveito o máximo minhas experiências em relação. O monologo da puta no manicomio, O pagador de promessas, O super night shot, O oficinão, Belo Horizonte, Angra dos Reis, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Campo Grande. Lugares por onde passei - pessoas que me atravessaram.

Nestes anos todos, desde que comecei a fazer teatro, (Porque comecei?) foram anos inteiros, dias corridos, horas profundas, pessoas interessantes, o prazer de se sentir vivo... Na universidade, no curso com o Mario de Oliveira, na C.A.L., na Martins Pena, em todos os espetáculos e grupos do qual fiz e faço parte, teatro empresa e nas escolas. Em todos estes lugares conheci pessoas estranhas incríveis e quem não é estranhamente incrível. Como natureza naturante e natureza naturada fui me transformando, vivi independente de mim.

Agora, que tudo começa a fazer sentido, como escolhas, como coisa que se transmuta, sempre em relação, no relacional das relações, tenho me feito perguntas, o que faço com tudo isso que sou? Qual será minha função?

Tomo parte, logo existo... Se Deus é as arvores, as folhas, os rios, os homens, a substancia, acredito nele como Deus que sou... Ligado a tudo e a todos numa mesma substancia de modos diferentes... Nada é igual; todos, tudo, coisa, mundo... Tudo faz parte de uma mesma essência em movimento, feita de pluralidade, de multiplicidade... A vida segue independente da gente.

Minha função talvez seja essa, estar vivo e vivo viver. Por tanto as próximas horas farei tudo novamente, não olharei simplesmente, não falarei a toa, não estarei só por estar, não julgarei meus atos, não pedirei permissão, não sofrerei a dor de culpa alguma, não haverá arrependimento. Também falarei só por falar, olharei só por olhar, estarei só por estar, viverei intensamente minhas expressões, meus sentimentos, darei ordens ao universo, gritarei aos céus, tomarei parte daquilo que sou parte e farei tudo isso independente de mim. Como corpo sem órgãos, rolarei pelos campos verdejantes. Vou chorar, desculpe mais eu vou chorar... E vou rir também, vou rir muito, não farei nada que seja pouco e pouco farei o que não seja nada, mas se nada fizer, farei nada muito, muito nada, vagarei pelo nada.

Às vezes encontro pessoas na rua que me pedem algo, outras vezes eu peço algo ao encontrar alguém na rua, somos todos pedintes... Mas ninguém vê minha sacola. Alias, ninguém é ninguém, somos todos coisa... Acredito que sendo coisa, alguma coisa independente do meu desejo acaba virando outra coisa, coisando e sendo coisado vou virando tanta coisa ao mesmo tempo, que nem sei que coisa eu sou, mas o que importa? O que importa saber quem sou? Não conheço quem sabe e mesmo aquele que diz que sabe no fundo só diz que sabe... Está completamente afastado da sua potencia de agir... Comigo não, violão. Comigo a coisa é minha potencia ativa de viver, minha vida nova é sempre nova. Vivo agora, neste instante. Impulsiono minhas forças ativas, minhas forças de criação, me deixo afetar sem ressentir, apenas sinto. Se algo é bom, me compõe e aumenta minha existência, se algo é mau, me decompõe e diminui minha existência, mas o fato é, seja uma paixão triste ou uma paixão alegre, ambas me fazem agir. A vida é ação, força, encontro, relação, disputa de força. A natureza é sempre positiva. Eu sou a natureza e ela, sou eu.

2007-07-27

Minha mulher quer que eu mude

Mudarei então.

Eu sou um homem de tipo esquisito... Não gosto de ter conta bancaria, não quero ter telefone celularl, não tirei minha carteira de motorista, não tenho um emprego fixo... Vivo as custas do meu esforço e controle da minha linda mulher, elea tem se esforçado para controlar tudo... chega uma hora que cansa. Agora ela quer que eu mude, tão certa ela... Vou ter que ser mais indenpendente. Farei uma conta bancaria, comprarei um telefone... e serei mais responsavel.

Droga! Essa vida nos obriga demais.

2007-06-25

Um Pouco de Fugant na veia - Spinoza, Nietzsche, Deleuze...

Hoje foi à noite do Fugant. Nosso filosofo particular, um pensador refinado. Saio sempre muito afetado. Parece que tudo que é dito, faz um sentido muito claro em minha experiência pessoal. Nesse encontro nós permanecemos com Nietzsche, entramos um pouco na má consciência, no ser ativo e reativo, no julgamento, no valor do bem e do mau, do útil e do inútil. Antes de transcrever o que anotei na aula, vou falar um pouco do que me afeta. O Fugant tem uma capacidade incrível de tirar de nós o chão, mostra aquilo que nos afasta do que podemos. Aponta o dedo na nossa própria historia e indica o porquê de sermos como somos. O poder da cultura que nos é imposta goela abaixo, o que é pior, com nossa conivência. Por isso estamos tão afastados daquilo que podemos. O tal do pecado infinito, a culpa, o medo. É disso que o poder se alimenta. Dá até medo quando você começa a fazer algumas relações simples, por exemplo, com as musicas de ninar (Boi, boi, boi. Boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta), na bandeira do Brasil esta escrito Ordem e progresso, tiraram até o amor da frase original, a frase inteira: Ordem, amor e progresso. Os sacerdotes construíram uma jaula para o ser ativo, com o intuito de proteger os reativos. O preço desta proteção é caro. Dura uma vida e mais muitas. Abaixo um pouco do que anotei do encontro com o Fugant:
desconstrução do que separa a vida do que ela pode.
Força reativa = força de conservação. Força ativa = Força de criação.
Como nos tornamos criadores. Na medida em que criamos uma obra de arte, criamos a nós mesmos.
Não existe natureza humana, isso é uma ilusão, um modo reativo de viver.
Os Homens precisam de imagens e símbolos, pois são incapazes de acontecer.
Natureza para Nietzsche é feita de forças.
Não há verdade, a verdade é a direção de uma força.
Não é o juízo que julga, a força é quem interpreta na relação. Vida só acontece em relação.
Algo é aquilo que pode. Nietzsche parte de uma ausência de juízo. Isso coloca a arte refém da moral.
O sistema de juízo afasta o homem do que ele pode. Viva e deixe viver. A arte, deste ponto de vista, vai virar instrumento de controle de conservação. Policial das sensações.
Não adianta matar o poder, matar Deus, matar o juízo para depois exerce-lo. Por exemplo, os movimentos de esquerda que dizem: Vamos dividir o poder! Nietzsche descarta o juízo, ataca o uso da linguagem e sistema de representação.
A divida infinita. A culpa é do outro no ressentimento e minha na má consciência. Nós vamos ligar essa maneira de viver ao cristianismo, não o cristianismo criado por Jesus, mas aquele criado na idade media por São Paulo. O homem se realiza no pensamento e na sensibilidade. Do ponto de vista de Nietzsche tudo é sintoma de forças em relação. O corpo é uma composição de forças. Tudo é corpo.
Ser capaz de acontecer é o mesmo que ser ativo. Vivo, sou parte, logo existo.
O sentido da improvisação – o rigor da improvisação – ação – Fluxo – digestão – consciência.
O Homem reativo sofre da vida, padece da vida. Se sente injustiçado.Aquele que fica na marca, ressentindo, sentindo novamente infinitamente, exemplo: Sofre por aquilo que outro lhe fez, culpa o outro ou a si mesmo... Vive neste universo da culpa e não esquece jamais. A vida fresca vira sempre vida velha.
O que nos move a criar? A fazer arte?
Todo moralista identifica o mau fora.
Bom senso e senso comum são os pilares da má consciência.
O Sacerdote do ressentimento – aquele que cria, formula o julgamento. O anterior, o certo e o errado, o mau e bem. O ser ativo cria e não pede licença. No virtual não tem autoridade. sacerdote inventou a vergonha. Nietzsche diz: O homem é o animal que tem as faces vermelhas.
O teatro e seu duplo – Artaud - Leitura.
O primeiro aspecto da má consciência é a criação da dor, a expansão da dor. A tendência a achar que o mau esta sendo criado em mim. O pecado infinito.
O adolescente é a transição da passagem da criança para o adulto, por isso ele cria dor para si mesmo, pois precisa sair da irresponsabilidade criativa da infância, para a responsabilidade que nos é cobrada pela sociedade. Nilton Santos dizia que rebeldia era importante para que o jovem transgrida as leis e questione sua realidade.
Contra a democracia! A sociedade precisa encontrar o horizonte comum das relações e não as leis.
Precisamos transmutar a força reativa para que ela seja função da força ativa.
São Paulo cria a dor e a culpa no individuo. Foi por isso que a igreja condenou a comedia, pois o único remédio para dor é o juízo final.
Nietzsche.
São Paulo nos cria uma divida tão imensa e infinita que somente o perdão de Deus pode pagar. Por isso Cristo morreu por nós. Para nos livrar do pecado.
O poder usa o juízo e desqualifica.
Não há no fundo da natureza, uma culpa, uma falta, um erro. Ao cego não falta nada, você é aquilo que pode.

2007-05-07

Depois do grande sucesso no Festival de Curitiba O Monologo da Puta no Manicomio em curta temporada no Rio



Amigos e amigas de todo Braisil e adjacencias

É com grande satisfação que eu e a Mirian Meee informamos a estréia da peça

O monólogo da puta no Manicômio, nas quartas feiras de maio a partir do dia 9, às 21h, no espaço alternativo "desculpe, eu sou chique" na rua alice, 75,laranjeiras.

Como vcs sabem, estar em cena em espaços não subvencionados é um grande desafio...
Por isso contamos com a força dos amigos, prestigiando o nosso trabalho, indicando e se possível repassando esta comunicação... Até lá, grande abraço,

Fernando Lopes Lima e Mírian Meee

2007-04-07

Minha linda mulher escreveu em seu blog - Tá certa ou não tá?




O "POBRE" produtor cultural da GRANDIOSA peça "Império", ex-gestor municipal dos teatros carioca (que pediu recursos da própria prefeitura para SEU espetáculo - “Ainda de acordo com o jornal O Globo, o motivo do pedido de demissão vai além da verba não liberada para o musical Império. Dos R$ 8 milhões destinados ao custeio da folha de pagamento e manutenção de toda a rede, quase nada estava previsto para investimento e patrocínio de espetáculos” – O Fuxico,[1] ), Miguel Falabella (MF), desabafou em entrevista: JB - CABDERNO B - 05/04/2007 (JB)“JB: O que mudou depois de vc entregar o cargo de gestor municipal de teatro e denunciar a falta de verba?MF: Nada mudou. Os SALÁRIOS (Atenção os atores de Falabella não recebem apenas 2% de bilheteria, como os reles mortais do teatro off-comercial, e sim SALÁRIOS!!!!!!!), por exemplo , continuam atrasados e a ínfima verba de patrocínio continua a mesma. (atenção os atores de Falabella contam com verba de patrocínio !!! Se eles têm patrocínio porque precisam da bilheteria?) A minha decisão é irrevogável. Não sou mais gestor da rede municipal de teatros".(...)"JB: Qual sua opinião sobre a polêmica da meia-entrada?MF: Isso é criminoso. Carteirinha de estudante virou uma máfia. Hoje, se compra em banca, no Centro da cidade. Vão acabar esvaziando o teatro com essa palhaçada. (Ele se esquece que quem enche os teatros hoje são os idosos – que chegam a fretar transporte para o evento e ainda os “famigerados” estudantes, que ainda podem pagar pelo entretenimento, já que existe a MEIA-ENTRADA!) Mas pensando bem, a meia-entrada é a cara da política pública Brasileira (Todos os lugares de 1o. Mundo utilizam a meia-entrada para formação de público pensante e cultural, é uma conquista muito importante). Criam a lei sem pensar nas implicações sem consultar as partes envolvidas e sem dar condições para que seja cumprida."Agora vamos a reflexão sobre essas palavras...Em que planeta vcs acham que esse Falabella vive?Esse é tipo do discurso de pessoas que não esperam ver o teatro tomando ruas, praças, esquinas e multiplicador de si mesmo.A intenção não deve ser dificultar o acesso do público ao teatro, muito pelo contrário.No caso de uma peça patrocinada com dinheiro público (mesmo que seja através de isenção de imposto) ela deve ter um retorno social para quem a está pagando (isso é, nós!). Quem sabe até ser apresentada de graça? Porque com o dinheiro do patrocínio a produção já estaria paga, os atores com seus salários garantidos e coisa e tal... Ou ainda a um preço simbólico, com a renda revertida para conservação do próprio espaço de encenação... Ai, se perguntassem pra mim... Eu dava um jeito nessa situação rapidinho (rsrsrs). Sei que muita gente pensa assim... E que essa oportunidade quase nunca chega.E porque que a gente não responde mesmo sem perguntarem?[1] http://ofuxico.uol.com.br/Materias/Noticias/2007/03/47880.htm.)

2007-04-06

Fiasco na Semana Cultural em Santa

Para aqueles que não sabem a Semana Cultural em Santa está na sua IV edição, a produção conta com pataricinio da Petrobras, Eletrobras, Ministerio do Turismo e diversos apoios, mesmo assim a organização é digna de pena... Nossa revolta é com o destrato dado aos artistas contratados para participar do evento. Fomos fazer nossa belissima peça "O Pagador de Promessas", antes estivemos no "Encontro Nacional de Teatro de Rua" em Angra e tambem no Festival de Curitiba, nos dois lugares fizemos um otimo trabalho para o publico que lotou nossas apresentações, ao chegar no Rio, mas precisamente em Santa, na Semana Cultural, fomos recebidos por uma produção estupida e de baixa qualidade. Um dos produtores chegou a agredir nossa diretora. Nós do Grupo Cronos e toda a plateia ficamos indignados. Fica aqui nosso protesto.

Nosso repudio a esses organizadores de pessima qualidade.

Agradecemos a Reverenda da Igreja Anglicana que coloborou abrindo as portas da Igreja.

2007-03-26

Diario de BHordo

Meus queridos amigos e leitintes... A coisa aqui em Curitiba está uma maravilha, fizemos um enorme sucesso com o Pagador de Promessas (Teatro de Rua) lotamos o Largo da Ordem todas as 4 apresentações.
O Monólogo da Puta no Manicômio vai fazer fazer 5 apresentações, dais quais já fizemos duas, a primeira com um modesto publico de 50 pessoas e a segunda com casa lotada até o chão, hoje, segunda feira, dia 26, faremos mais uma sessão as 23 horas, mas a semana só está começando e o bicho tá pegando. Tivemos varias críticas e muitas entrevistas, Dario Fo é um luxo. No mais estou por cá e logo logo estarei em BH, mas antes o Pagador se apresenta no Rio, em Santa Teresa no dia 07 de Abril. Vejo vcs por lá.
Vejam a critica que o Curitiba Interativa fez do nosso trabalho com o Monologo:
Atriz domina Puta no Manicômio sem exagero - Dia 22.03
Ayrton Baptista Jr.
Há tempo para o exagero em O Monólogo da Puta no Manicômio, mas não é esse o instrumento de Miriam Meee. A atriz também grita e esperneia, mas suas melhores armas são o fraseado amargo, singelo ou engraçado, mas sempre claro e que não roubam o caráter de denúncia. A moça do título é internada, mas nem os choques (bem acentuados por espocares de luz) a que é submetida lhe matam a lucidez. Apesar da vocação dramática da história, Miriam e o encenador Fernando Lopes Lima sabem suavizá-la e encontrar atalhos para o humor.
Como convém ao pequeno TUC, há poucos objetos de cena. Sobra mais palco para a atriz-dominadora do texto do casal italiano Dario Fo (autor que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1997) e Franca Rame.

2007-03-17

Diario de BHordo - Pagador de Promessas




Meus amigos no caminho para BH passarei por varias cidades, 2 festivais e muito teatro na veia. Nesta ultima semana, estive no Encontro Nacional de Teatro de Rua que acontece em Angra dos Reis - As ruas e praças do Centro de Angra dos Reis recebem até este domingo, dia 18, mais uma importante manifestação de cultura: o Encontro Nacional de Teatro de Rua de Angra dos Reis. O evento apresenta espetáculos e oficinas. A programação é toda de graça.

Fomos recebido por Narciso Teles que é o curador do encontro, nosso grupo ficou muito bem hospedado junto dos demais grupos e tudo correu com muita paixão e libertação.
Estava presente no encontro o todo poderoso do Palco Giratório Sidnei Cruz e outros tantos seres da maxima importancia e prestígio no meio artistico. Fizemos uma belissima apresentação do Pagador de Promessas, o publico se deliciou com Dias Gomes... A unica atração internacional do festival foi um grupo da Servia que mostrou um espetáculo diferente daqueles que estamos acostumados a ver na Rua; em vez de cores, fitas, tambor, pernas de pau e cortejo, apenas uma atriz de voz baixa e movimentos minimos. Um desafio tanto para o artista quanto para o publico...
Fato é que o encontro continua até domingo e os organizadores estão de parabens e merecem nosso respeito e confiança, espero voltar ano que vem. (agora o destino do papai aqui é Curitiba...)
Abraços