2011-06-10

Do retorno ao deserto.

Não é fácil começar o ensaio de uma peça, ou melhor é fácil, basta ter os atores e o diretor, em alguns casos, só os atores. De qualquer forma, o que estou tentando dizer, é que um processo de montagem é sempre uma construção de uma obra de arte e de si mesmo, vamos nos reconstruindo ou nos construindo, enquanto artistas em ação. Nesse sentido começar é sempre um passo para o desconhecido. Um desafio.
O processo do Retorno ao Deserto foi relativamente calmo, com a condução precisa do diretor, que tem um refinamento próprio, uma maneira vertical de ver as coisa e de se relacionar com a obra, o texto. Nós, atores, nos colocamos a disposição. Nesse sentido é de fato um desafio, pois estamos lidando com um olhar, normalmente preciso e preciso até demais (rsrsrsrs). Ao mesmo tempo rola uma sensação de conforto, quando estamos abertos para este tipo de jogo. Trata-se de um jogo. Trata-se de um jogo, em que as regras são dadas em relação, no ato das jogadas, a cada lance. Em alguns dias jogamos mal, em outros vamos jogando sem entender e, as vezes, muitas vezes, por uma percepção qualquer, com a colaboração do diretor, jogamos muito bem.  Até que vamos dominando a forma de jogar. o tempo das coisas. A técnica. Até começarmos a fazer jogadas incríveis leva um tempo, nunca vamos estar totalmente prontos, o teatro não é uma obra pronta, não deve ser.
Ficamos, nós atores, até certo ponto, neste processo, nos sentindo marionetas de um titeriteiro refinado. Por tanto foram dias de muitas descobertas e de conflitos pessoais e, por que não dizer, coletivos, pois todos vamos nos envolvendo, até que nos tornamos um elenco afinado. O processo de montagem do Retorno foi permeado por estes vetores de força. Claro, é um esforço, uma lógica muitas vezes estranha, ou estranha para nós, mas o interessante é, se formos inteligentes, deixar-se afectar. Ser conduzido é parte importante do trabalho do ator. "Dar não dói, o que dói é resistir.
Hoje, dia nove de Junho, estreamos. Começamos a nos entender dentro e fora. Dentro, com tudo que dever ser feito para que o espetáculo aconteça, com todos se relacionando para que o espetáculo aconteça e fora, quando recebemos da platéia o retorno, a resposta da platéia nos permite analisar o que funciona, o que não funciona e como fazer para funcionar melhor. A cada dia vamos elaborando perguntas e tentando responde-las em cena. É uma via de mão dupla, damos e recebemos. Agora temos pela frente uma temporada, serão dois meses, quatro vezes por semana. Amanha nada será como hoje, assim é a vida e assim é o teatro. Com toda certeza o desafio é diário e tudo é positivo, estamos em movimento e tudo vai no transformando, nos mudando, nos construindo.  Tenho fé no nosso trabalho, ponho fé no nosso trabalho e acima de tudo ponho trabalho no nosso trabalho. Assim, dessa forma, vou me desprendendo aos poucos, soltando as amarras. Sigamos com coragem e determinação. Tudo vai dar certo.