Só pra variar

Leitintes querido. Um breve e muito breve desabafo. Só para variar.

Eu faço essa porra de teatro a mais ou menos vinte anos, sempre profissionalmente e sempre cientificamente. Sou dessa porra até o osso. Então não venha me dizer que o que eu fazia antes era menos importante. Fiz teatro de rua, fiz bagaceiras em teatro empresa, fiz lindas peças infantis, fiz com gente famosa e com gente, fiz na universidade e fiz na boca do lixo. Vou morrer fazendo teatro, se é que vou morrer. É onde posso colocar meu pau na reta e meu cú pra fora. Muito cuidado quando for falar por ai sobre o que estou fazendo hoje ou com quem eu estou trabalhando hoje. Sou hoje porque fui ontem E vou ser amanha porque estou vivendo hoje como se fosse o ultimo dia. Gosto do que faço. Faço para que gostem. Sou forte para caralho, vou aguentar essa porra até o fim.

Porrada/ Porrada/ Nos caras que não fazem nada.

Mudança de endereço

Vou mudar. Mudanças são sempre tão bem vindas na minha vida que vivo a vida por mudar. Uma vez para conhecer o mundo,;muitas vezes pra fugir de si mesmo, como se fosse possível, mas é sempre para encontrar o que ainda não sei. Gosto do desconhecido da vida. Depois é tudo tão monótono.

...

Só estou aqui pra dizer que posso deixar tudo pra trás e encarar o desconhecido.

Eu e eu e eu - D-eus.

Eu poderia ter dito tanta coisa. Eu poderia ter deixado de cometer tantos erros. Eu, por vc, deixaria ser tão bobo. Eu lhe daria menos amor, menos sufocante eu seria. Eu falaria menos pra deixar vc pensar. Eu brigaria mais para aquecer a relação. Eu ganharia mais dinheiro para lhe dar mais segurança. Eu seria mais homem. Eu faria tudo isso e muito mais por voce. Eu só nunca fiz tudo isso, pois não consigo deixar de ser eu pra voce continuar sendo voce. (e agora José?)

Espalho

Aquilo que é fácil para uns pode ser impossível para outros.Pra mim tem sido impossível, mas dá pra conviver com isso. Sigo!

Espelho

No fundo sou triste, mas quando estou perto de gente finjo tão bem que até me engano.

street view

Duas mulheres conversando na beira da praia.

Mulher - Você não está gorda.

Outra - É que...

Mulher - Mas você está ótima.

Outra - Eu...

Mulher - Você só está barriguda. Muito barriguda.

Outra (silêncio).

street view

Um homem está parado no ponto de ônibus com um belo buquê de rosas nas mãos.
Uma mulher se aproxima.

Mulher - Lindas rosas.

Homem (Gira a cabeça em direção a mulher)

Mulher - Toda mulher gosta de rosas.

Homem (Gira a cabeça para frente)

Mulher (Sai)

Homem (sem mudar sua expressão) - Menos as que são alérgicas.

Do retorno ao deserto.

Não é fácil começar o ensaio de uma peça, ou melhor é fácil, basta ter os atores e o diretor, em alguns casos, só os atores. De qualquer forma, o que estou tentando dizer, é que um processo de montagem é sempre uma construção de uma obra de arte e de si mesmo, vamos nos reconstruindo ou nos construindo, enquanto artistas em ação. Nesse sentido começar é sempre um passo para o desconhecido. Um desafio.

O processo do Retorno ao Deserto foi relativamente calmo, com a condução precisa do diretor, que tem um refinamento próprio, uma maneira vertical de ver as coisa e de se relacionar com a obra, o texto. Nós, atores, nos colocamos a disposição. Nesse sentido é de fato um desafio, pois estamos lidando com um olhar, normalmente preciso e preciso até demais (rsrsrsrs). Ao mesmo tempo rola uma sensação de conforto, quando estamos abertos para este tipo de jogo. Trata-se de um jogo. Trata-se de um jogo, em que as regras são dadas em relação, no ato das jogadas, a cada lance. Em alguns dias jogamos mal, em outros vamos jogando sem entender e, as vezes, muitas vezes, por uma percepção qualquer, com a colaboração do diretor, jogamos muito bem.  Até que vamos dominando a forma de jogar. o tempo das coisas. A técnica. Até começarmos a fazer jogadas incríveis leva um tempo, nunca vamos estar totalmente prontos, o teatro não é uma obra pronta, não deve ser.

Ficamos, nós atores, até certo ponto, neste processo, nos sentindo marionetas de um titeriteiro refinado. Por tanto foram dias de muitas descobertas e de conflitos pessoais e, por que não dizer, coletivos, pois todos vamos nos envolvendo, até que nos tornamos um elenco afinado. O processo de montagem do Retorno foi permeado por estes vetores de força. Claro, é um esforço, uma lógica muitas vezes estranha, ou estranha para nós, mas o interessante é, se formos inteligentes, deixar-se afectar. Ser conduzido é parte importante do trabalho do ator. "Dar não dói, o que dói é resistir.

Hoje, dia nove de Junho, estreamos. Começamos a nos entender dentro e fora. Dentro, com tudo que dever ser feito para que o espetáculo aconteça, com todos se relacionando para que o espetáculo aconteça e fora, quando recebemos da platéia o retorno, a resposta da platéia nos permite analisar o que funciona, o que não funciona e como fazer para funcionar melhor. A cada dia vamos elaborando perguntas e tentando responde-las em cena. É uma via de mão dupla, damos e recebemos. Agora temos pela frente uma temporada, serão dois meses, quatro vezes por semana. Amanha nada será como hoje, assim é a vida e assim é o teatro. Com toda certeza o desafio é diário e tudo é positivo, estamos em movimento e tudo vai no transformando, nos mudando, nos construindo.  Tenho fé no nosso trabalho, ponho fé no nosso trabalho e acima de tudo ponho trabalho no nosso trabalho. Assim, dessa forma, vou me desprendendo aos poucos, soltando as amarras. Sigamos com coragem e determinação. Tudo vai dar certo.

Oração as avÉssas.

Agradecer a Deus por mim, pelo que tenho? Não mesmo, estaria chamando ele de injusto. Penso da seguinte maneira: precisamos fazer com que todos tenham uma boa qualidade de vida e não só alguns. O que Deus tem haver com isso? 

O silogismo:

O homem cagou no mundo. O homem é cagada de Deus. Deus cagou no mundo. Uns com tanto e outros com tão pouco. Deus? Existe, só não quer se envolver.

Desarquivo.

Todo processo de criação é conturbado, cheio de medos e duvidas que no final, se tudo for bem conduzido, pode se tornar uma obra de arte. Na maioria das vezes tenho sido bem sucedido no meu trabalho, mesmo quando não sou. Ainda não pintei meu melhor quadro. Vou entendendo aos poucos, sem pressa. Tenho o tempo de uma vida. Talvez, ela mesma, seja minha melhor obra de arte. Aos poucos vou me soltando, me desprendendo. Com passos seguros vou me transmutando em uma obra. Quando terminar poderei descansar em paz.