Eu às vezes fico com raiva quando não consigo me fazer entender, por pura vaidade, por competição, por causa da minha baixa alta-estima que me obriga a querer provar as coisas. Como seu eu tivesse que provar alguma coisa para alguém. Debato-me desnecessariamente. E nos lugares errados. Para pessoas erradas. O que me leva a crer que para determinados tipos de pessoas tenho que determinar a maneira. O como. A forma. De dizer o que penso. Isso se for necessário abrir a porra da boca para falar. Normalmente as pessoas querem falar de coisas sem importância e ter uma noite agradável, até mesmo eu preciso aprender a relaxar. Eu penso demais. Isso não quer dizer que pense certo, mas estou sempre produzindo pensamentos profundos sobre tudo.
Não entendo o conformismo, a coisa morna. Deus vomitará os mornos. Ficamos cheios dos melhores pensamentos que nos levam a conservar o mundo mesmo sabendo que a merda tá fedendo. Numa boa discussão, não se trata de ganhar ou perder simplesmente. É a defesa de um ponto de vista a todo custo, mas defender pra quem? O que? De quem? Às vezes não vale a pena, eu preciso aprender a me calar.
Eu nasci em Campo Grande, numa família de gente pobre, poderia dizer muito pobre, mas como conheço gente mais pobre do que nós, prefiro dizer só pobre mesmo. Isso não me faz melhor que ninguém. E uma questão de ponto de vista. Em se tratando de mim, meus amigos; não passei pelas coisas em vão. Não sou do tipo que olha as coisas, eu procuro ver, precisei forçar a vista pra ver mais longe, para dar um salto em busca da liberdade, ir à raiz das coisas. Trata-se disso a vida, a busca pela liberdade. Felicidade é outra coisa, mesmo porque, conformismo é coisa que se vende em barraca de feira a preço de banana. O que posso esperar das pessoas? Nada além de seus próprios pontos de vistas baseadas em suas experiências de vida. Só não podemos esquecer que para algumas pessoas é dada uma gama maior de possibilidades; o que gera perspectiva; que gera alto-estima ou alto-confiança e ou poder de escolha. Para a maioria das pessoas é pão e circo ruim! O que gera desnutrição do corpo e da mente. E ai, podemos relativizar a felicidade alheia, meus caros. O sujeito ser feliz, morando em péssimas condições, com salário que não lhe permite ter uma vida mais livre ou digna, com seus filhos estudando em colégios falidos, sem cultura, diversidade... Isto não é felicidade, é alienação. Um sujeito não nasce alienado ele é tornado, formado assim. Um bairro como Campo Grande que, por muito tempo foi considerado um bairro dormitório, ou seja, aonde os trabalhadores só iam para dormir, que não oferece cultura e lazer de qualidade e ou diverso, cresce "demo" graficamente, torna-se sustentável, mas não dá ao seu povo a perspectiva, que gera alto-estima ou alto-confiança e ou poder de escolha. Quem, de alguma maneira, vislumbra liberdade, ou algo mais, tem/ é obrigado a sair. Todos os anos jovens em busca de uma vida melhor são obrigados a sair de seu bairro ou município para estudar numa universidade, já que perto de sua casa não tem nenhuma.
Para que serve o teatro? Os shows de música de todos os tipos? A dança? As artes plásticas? A poesia/literatura?... Não sou contra o funk, o pagode, o sertanejo universitário, sou a favor da diversidade, pois diversidade gera liberdade de escolher aquilo que é melhor para mim, aquilo que de fato eu gosto. Isso é o contrário de enquadrar-me ou deixar que me enquadrem. As artes servem para exercício do raciocínio, para expandir o "músculo" da subjetividade, que é a "substancia" responsável pela criatividade. Para ser livre é preciso ter criatividade e criatividade é a capacidade de se recriar infinitamente. Se nos tiram a escola, o teatro, a música, o cinema e etc... Tiram-nos a capacidade de produção de pensamentos que podem nos tornar mais livres. Fazem isso de propósito? Acho que sim. Quem faz? Os que não querem que todos sejam livres. Quem são esses? Foda-se!
Dito isso, estou mais calmo, posso viajar agora com mais calma, gosto de entender os pensamentos que me recriam e gosto de me fazer entender. Espero que um dia sejamos todos mais livres, mais potentes e ai, a palavra felicidade vai voltar a fazer sentido pra mim. Enquanto isso, vamos pastar não mão dos lobos. Sigo!
Eu perdi alguns amigos de infância, vitimas de si mesmos e do mundo. Mortos na violência da selva da cidade. Não sou eu a vitima e sim eles que por não saberem seu lugar no mundo, tornaram-se revoltados e optaram pela vida de bandido. Uma coisa leva a outra e estão todos mortos. Que descansem em paz. Enquanto isso estamos aqui no inferno, mas eu não tenho medo do fogo.