2009-11-02

Don Juan

Pensei em dizer alguma coisa. Calei-me e não disse nada. Absolutamente calado fui chegando cada vez mais perto. Inevitavelmente apaixonei-me. Foi amor a primeira vista. Ficamos ainda nos olhando, calados, por um longo tempo. Até que ela levantou e sumiu, desceu em meio à multidão. Mais a frente, tornei a me apaixonar. Nossos olhares se cruzaram quase sem querer. Gelei, era ela, a mulher da minha vida. Fiquei ainda pensando um tempo, olhando pela janela, tomando fôlego. No carro ao lado, me olhando uma morena. Passei olhando rápido e reparei que estava sendo reparado, meu coração bateu mais forte. Era ela, só podia ser. A mais bela entre todas as belas. Abri a janela para tentar fazer algum tipo de contato mais intimo. Outra coisa me chamou a atenção. Foi inesperado. A trocadora. Ela estava dormindo de boca aberta. Eu não havia reparado no formato de sua boca. Ela acordou com o solavanco e me pegou no flagra, tentei disfarçar mais era tarde. Nós já estávamos completamente envolvidos. Levantei e fui em direção a ela. Passei entre duas meninas, novas, talvez 22 anos. As duas me olharam e meu mundo se dividiu. Meu coração se fez dois e agora, sim agora, estava tudo claro para mim. Eram as mulheres dos meus sonhos. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, o ônibus parou bruscamente, a porta da frente se abriu, os anjos tocaram as trombetas e ela entrou como quem não dá a mínima para os outros pobres mortais. Caí de joelhos e gritei. Agora estou aqui, amarrado, tive um colapso nervoso. Já pedi as enfermeiras em casamento, elas ainda não aceitaram. Ainda.

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