2009-09-30

Cossas

Entrei no apartamento que um dia já foi minha morada, nos bons anos do casamento. Até arrisquei chamar por ela, mesmo sabendo que era só um devaneio de puro saudosismo. Por alguns momentos engoli o choro que me subia na garganta. Passado que não volta é só ressentimento tolo. Abri a garrafa de uísque, tomei o primeiro gole, respirei fundo e fui curtir a festa no apartamento que agora não é mais nosso.

2009-09-29

afoguei-me


Cheguei na casa deste meu amigo, e sempre tem um bom amigo para desafogar as mágoas e ele me leu auto-ajuda, das boas, parece. Mas já no elevador, na subida para sua casa, só pensava no uísque que ele sempre tem para desafogar suas próprias mágoas. O uísque é mesmo o melhor amigo do homem, por conta disso os suicidas são em menor número que os alcoólatras. Sentei no seu quarto com o copo cheio e bebi querendo me embebedar, esse tipo de coisa me excita. Uma amiga chegou e na euforia aceitou beber comigo. Enquanto ela bebia apenas um copo eu já estava no quarto e querendo o quinto. Vimos um filme de aventura na Amazônia, faz parte da nossa pesquisa ver filmes que não nos leve a nada. Fiquei bêbado e passei por todas as fases; a paixão subiu pelos meus pés, uma nostalgia acompanhou-a e logo eu queria voar para "encontrar-me a mim mesmo". Fora a fantasia o resto foi sono. Cheguei em casa e tudo está bem, sinto falta de alguma coisa fora de mim, mas no fundo estou mesmo é preso dentro de mim. Liberta-miei logo.

2009-09-28

2009-09-27

...

Passei a vida inteira acreditando na aventura magnifica da vida. To cansado para continuar escrevendo. Durmo.

Minha querida Dinamarquesa

Fui correndo para ver se ela havia voltado para o mesmo ponto do ultímo encontro. Pensei ser possível vê-la novamente e, quem sabe, ela me perceba verdadeiramente. É uma paixão antiga, quando estou longe fico cheio de coragem, imaginando façanhas e ditos incríveis, mas quando tenho alguma oportunidade de aproximação minhas pernas enfraquecem e as placas do meu cérebro colam de tal maneira que não consigo nem me fazer notar. Outro dia a encontrei e foi tudo confuso, preferi fingir uma ar de "não estou nem ai", mesmo porque isso tudo é problema meu. - Oi, como vai? Depois nos falamos melhor. Beijos. - Disse isso e fui passando depressa. Eu sou um amante covarde.

Ahhhhhhhhhhhhhhh! (Odio!)

De verdade... to meio de saco cheio de ser tão resistente. Chorei por três dias e parei repentinamente prometendo a mim mesmo que jamais chorarei por amor,  de nada vale chorar. O amor é um flor vermelha que nasce no coração dos fracos. De qualquer forma to com preguiça de reagir, as vezes penso em escolher uma rede confortável e ficar lá imóvel até que a morte me carregue em seus braços. Isso é só um pequeno desabafo, vou dormir e tudo não passará e ao mesmo tempo passarão.

2009-09-24

Plá

De boca aberta o índio recebeu os europeus como quem para diante do novo e perde qualquer poder de reação. Uma simples galinha pode se tornar um monstro assustador, com suas penas, bicos e cocoricar sinistros. De princípio era o choque e a esperança do contato com um Deus que lhes era sedutor. Quem não ficaria imóvel diante de uma nave de outro mundo? Imagino a cena de impacto: no horizonte o que é apenas um ponto preto vai aos poucos se transformando em uma enorme maquina flutuante, de onde descem homens de barbas longas e corpos de muitas texturas, com botas, chapéus e armaduras que lhes emprestam uma imagem de seres de outro mundo, o que de fato eram. O encontro de dois mundos distintos. Um horror de admiração dos dois lados nos diz Pero Vaz de Caminha. Dizem que nossos índios eram ingênuos, crianças a brincar no jardim do Édem, não estou certo disto. Tenho a ideia fixa de que eram simplesmente seres humanos com seus costumes e ideias próprias para explicar sua existência. Dizem que o Brasil é feito do pior da Europa, com o pior da África e com os piores nativos de toda América. Dizem, e quem diz? Que nossos índios, nossos? Eram preguiçosos, e por isso foram facilmente controlados, dominados, exterminados. Não estou bem certo disso. Estamos investigando para tentar entender a formação do povo brasileiro. São tantas lacunas de nossa própria história, mesmo porque quem ganha a guerra nos conta sua versão, nos falta uma parte importante, a versão do derrotado. E ai batemos cabeça, cagamos regras sobre si mesmos e etc... O que me toca nisso tudo é ter que acreditar que o ser humano é ganancioso por natureza, invejoso por natureza, uma praga por natureza. Dai não importam os Deuses, pois eles deviam estar loucos quando nos puseram no mundo. Nem vem com essa de que o mundo piorou. O mundo sempre foi essa merda admirável. Uma cagada de um Deus louco, tirânico e todo poderoso. Nesta merda divina somos os vermes a vagar pela superfície fétida do mundo de merda. Peida!

2009-09-21

HiHou!

OutroDiaCheioDeGraçaPorraQueria
PoderViverSemPrecisarDeDinheiro 
MerdaDeFicçãoDiabolica
EsseCapetalismo

2009-09-20

Como vai voce?


O tempo atravessa e nos transforma naquilo que fomos feitos para nascer, fetos para viver. Não entendo muito de nada ou quase nada, só sei que sei de pouco e o pouco que sei é que me sustenta para querer saber um pouco mais. O resto é silêncio. Passados os anos percebo que mudei, fui atravessado por um monte de gente e situações diversas, mas no fundo sou o mesmo bom garoto de sempre, com um entendimento pratico da vida pratica. Nada que já não soubesse, como se em algum ponto da minha vida eu tivesse decidido ser o que sou. Meio que é assim com todo mundo, cada  qual com suas atravessadas e travessias.

Como a minha vida é de pouco trauma, alguns dramas de dores finas, mas sem grandes conseqüências, quase que estou no mundo a passeio. Observo tudo com um ar de espectador de mim mesmo.

Tudopassatudofilmetudotrajetóriatudohistória
tudoquadrotudosensaçãotudovivotudomorto.

Deixei de ver pessoas por longos anos, namoradas amadas, amigos antigos e coisas, não os vejo nem sei de suas histórias, da vida que levam ou levaram até aqui. Adoraria sabê-las.
Esta semana encontrei uma antiga namorada, fazia quinze anos sem trocar palavra e nos encontramos para brincar quase que por acaso. Não digo que foi ótimo, mas estranhamente belo e grotesco, com alguns momentos de pura crueldade. Ela acreditando ter sido eu seu eterno príncipe perdido, depositou expectativa demais em nosso encontro. Na dor da sua solidão, acreditou que nosso reencontro fosse acender a velha chama da paixão. Doce ilusão de uma mulher sofrida, carente e ressentida da vida. Senti sua tristeza, fizemos sexo e conversmos mesmo para tentar se conhercer.

Fiquei pensando muito na trajetória, nas escolhas, nas esquinas e encruzilhadas. Gostei de saber que não seria possível, como não foi levar aquele tipo de vida que teria levado se na ocasião escolhesse o casamento. Como saber? Impossível. Senti pena e talvez volte a vê-la. Por enquanto adeus.

A sanidade é uma linha fina.


2009-09-16

O segredo do degredo.

Não sou do tipo que olha para uma buceta e fica de pau duro, de maneira alguma, não funciono desta maneira. Preiso sentir o cheiro, os cheiros de todo o corpo. Cada parte da mulher tem um perfume diferente. Não basta ser linda, tem de ter a buceta cheirosa e o cú também. De longe todas as mulheres precem apetitosas, de perto algumas são. 
Essa noite fui a um puteiro no centro da cidade, o pulgueirão da Lapa, como é conhecido o estabelicimento. Paguei vinte pratas para tirar a mulher da casa, cem pratas para fazer sexo durante uma hora e dezessete mangos do hotel. Um hotel velho, úmido, com quartos sujos e com cheiro de perfume barato no ar. Travestis, putas e clientes circulam pelos corredores escuros, tudo ali tem odor e clima de orgia decadente. 
Entrei na boate só para passa o tempo, nem estava muito interessado. Logo que adentrei ao recinto avistei uma negra dançarina com um belo corpo escultural, de curvas finas e arrojado desempenho no palco. Sua pele negra brilhava. Fiquei louco de pau duro. Antes que ela acabasse de dançar fui até elá e cantei a pedra. Paguei a taxa da casa e levei a Deusa africana para o hotel "Expelunca". Agora eu já estava envolvido e tinha de ir até o fim na brincadeira. Vesti o personagem do cafetão de quinta categoria e entramos no quarto como um casal em lua de mel. 
Na luz branca do quarto sujo minha Deusa africana era apenas uma puta rampeira com cara de pobre coitada. Fomos para o banho e a esta altura eu já estava arrependido sem perder a pose. Depois que gozei senti uma profunda solidão com aquela mulher na cama me chamando de gostoso. Paguei seu cachê e mandei ela ir embora, queria ficar sozinho um tempo. O famoso cala a boca e não enche o saco. 
Esse é o tipo de coisa que faço só para movimentar minha vida, talvez para ter o que escrever. Tomei um banho mesmo para tentar tirar aquele cheiro de mim, como se fosse possivel. Ainda fumei um cigarro sentado numa velha poltrona e diante daquele cenário sem vida chorei como um degradado.
No caminho para casa parei em um bar e tomei duas cervejas, logo tudo não passava de mais uma lembrança engraçada. Um dia vou comer a puta dos meus sonhos, enquanto isso experimento de tudo um pouco.

2009-09-12

A morte do imortal

Voce já ouviu falar do imortal Antônio Olinto? Pois é... morreu aos 90 anos de idade nesta madrugada de Sabado (11/09). O presidente da ABL, Cícero Sandroni, já determinou luto oficial de três dias na academia, que, na próxima quinta-feira (17) estará realizando a sessão solene de saudade, quando será declarada aberta a vaga da cadeira número oito. Entre as muitas obras do escritor, está o romance "A casa da Água", de 1969, e livros de poesia como "Presença", "O Homem do Madrigal", "Nagasaki" e "O Dia da Ira". 
Não sei porque resolvi escrever essa noticia, de cara eu desconfio de todos os imortais. 

Quem será o sexto elemento da cadeira de número oito?  Vai-se um escritor mortal, fica-se a obra imortal.  

Salve!

2009-09-11

Parece que sim

Começo a me sentir livre. Taxi! Tá livre? Viva a LIBERDADE!

2009-09-10

Queroserbichoparamorarnolixo

ser ou não ser?
é
foi ou na foi
culpado
bicho no lixo
certo ou errado
mataram com socos
condenados
o pai foi traído
do filho exige vingança
mimado
Nem me venha com essa
de fim do mundo
para de ser tão egoísta
voce nem é gostosa Ofélia
Classe média
bem média
uma merda fedida
Serei bicho
falarei baixo
do alto olharei
No lixo ficarei luxo
Nem adianta me abandonar
sempre há de pintar mistérios
Mas quanto artista
revolucionário
Vai defender
não se acovarde
tenha o que é seu
ou tome
O bicho homem do lixo
nem espanta mais
Sou um artista da fome
com fome
sem microfone
Daqui por diante não
fale mais de quem fui
como fui ou se fui
Ser ou não ser?
Eis a questão

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Bebado falante

Sou do tipo que bebe mesmo para tentarse divertir ou para deixar a realidade turva
                                                                           
    Sou do tipo que bebe 
    mesmo para tentar se divertir 
    ou para deixar a realidade turva.

    Não quero >>>> Não posso

    Estou cada vez mais gordo, pançudo mesmo. De um lado a cerveja inevitável do fim do dia, de outro as guloseimas deliciosas e por isso inevitáveis. A felicidade de um homem passa pela liberdade de fazer suas proprias escolhas, no entando se escolho comer e beber levo como castigo a pança. Estou preso a este corpo, liberdade de cú é rola.
    Se quiser ser magro para conquistar as fêmeas de minha espécie, no fundo é disso que se trata, preciso evitar as escolhas que me distanciam deste objetivo. Tenho que malhar, comer salada e parar de beber cerveja. Para ser magro é preciso ser infeliz e medíocre. Daqui a pouco vou começar a fazer caminhada ecológica e a acordar cedo. Morrer não seria tão pior. Desculpe o fatalismo, mas quando me coloco, eu mesmo, contra a parede, fico me debatendo. Depois de um tempo tudo isso passa e vou passar o resto dos meus anos enchendo a cara e culpado por não ter um belo corpo escultural. Quem inventou este tipo de consciência deveria ser enforcado. Bom, vou seguindo, acreditando na santa leptina e no poder da alface. Tudo isso para poder tirar a camisa na praia sem que os magros infelizes me olhem com cara de escárnio. Morram!

    2009-09-08

    As cabeças Santas

    Foram trazidas em cortejo, onze cabeças, cabeças de santas virgens, cortadas na fonte por cutelo afiado. O povo canta em louvor as cabeças. Um canto desafinado e forte. As cabeças virginais serão postas no altar sagrado da santa igreja para que todos os dias do ano os fieis possam toca-las pedindo graças em louvor de misericórdia. As santas cabeças cortadas por cutelo afiado foram trazidas de navio, armazenadas em um vidro sacro e conservadas pelo divino formol. Dizem que a noite as santas conversam entre si para dividir os pedidos e conceder as graças.
    Alguns pescadores pecadores juram ter visto os espíritos das santas vagando pelo litoral à procura de suas cabeças. As cabeças das virgens santas que em vida se deram em sacrifício ao Deus todo poderoso e que, após a morte foram decapitadas por cutelo afiado, armazenadas e agora conversam entre si no altar da santa igreja. As santas cabeças operam milagres e por onde passam, as cabeças, em cortejo são louvadas com muita fé e devoção.

    Da história das santas sabe-se que elas viviam em mosteiro protegido e foram criadas virgens preparando-se para o sacrifício. Foram sacrificadas em dia santo por um padre de mãos firmes e sem gritos de dor foram separadas, as cabeças, de seus corpos por um cutelo afiado. Os corpos sem as cabeças dançaram ainda um longo tempo antes do falecimento total dos orgãos sem cabeça. O santo sacro-ofício foi assistido por uma multidão que entoava um cântico que dizia: Santas virgens/ que em vida serviram ao Deus/ leva de nós todos os pecados/ santo é o vosso ato de união/ santa é nossa igreja/ que o sangue derramado lave a terra de todo o mal/ que suas cabeças abençoem todo o povo civilizado e temente a Deus/ que nossos inimigos não tenham pernas nem braços/ Que suas cabeças santas nos protejam/ amém.
    Durante muitos anos as cabeças virginais serviram de símbolo de sacrifício e comprometimento com os ensinamentos da santa igreja. Nos dias de hoje, quando todos perdem a cabeça, as santas cabeças encontram-se perdidas no museu sacro. Poucos são os que louvam, muitos são os que se enojam. As santas cabeças virgens choram lágrimas de formol e não conversam mais entre si, calam-se diante do homem sem fé. O vigilante noturno do museu diz ouvi-las chorar e mal dizer o mundo.
    As virgens decapitadas por cutelo afiado agora jazem solitárias e empoeiradas no deposito esquecido da igreja que já não é mais santa.

    2009-09-07

    Bem... hun... hun... testando

    Hoje fiz tudo que um bom carioca pode fazer. Acordei tarde, fui a praia e fechei a noite bebendo cerveja e jogando sinuca. Nessas horas é que percebo o sentido da vida.
    Ainda não me sinto totalmente livre depois da separação, para quem interessar possa. Sinto-me preso, amarrado ou culpado. Estou meio cansado de ter que responder as mesmas questões.
    Deixei de querer ser melhor que os outros, isso já foi um ótimo passo para o futuro, que alias, estou com saudade. Fico querendo que a vida passe mais depressa e que algumas coisas sejam logo mortas. A coisa de matar ou deixar morrer o que não lhe presta mais, até boas lembranças. Me ocorreu um achado, uma frase do Pe. Anchieta: "Quanto mais na vida corro, mas me abraço com a morte, e querendo viver, morro".
    Sabe que tenho pensando em ser outro, ou outra coisa qualquer que não gente. Tenho a sensação que gente é tão medíocre, então tenho pensado em ser qualquer outro tipo de troço. De qualquer forma, também penso em dormir mais cedo, me aplicar mais em meus negócios, melhorar minha alimentação. Começo a querer acreditar num tipo de vida que faça com que tudo dê mais certo. Dizem que preciso levar o mundo mais a sério, vou fingir que creio nisso e tentar me adequar. Dentro de mim arde um troço. Mas não sou do tipo que fica cheirando o rabo dos outros. O negocio é seguir meu próprio caminho, mesmo porque, no final, vamos todas cair fedendo. Ao pó volteremos. Essa vida é uma só, podem haver outras vidas, mais essa termina no final.
    Acho que sou um cara triste, profundamente triste, mesmo que me divirta com toda essa baderna. A diversão é só pra tornar tudo mais suportável. Recuso-me a levar a ficção a sério... é exigir demais... Tá errado...
    Faz tempo que acredito nesse artista que defende o mundo à minha volta, gosto de alimentar essa ficção onde sou o protagonista. Minha maneira de existir. Ser artista me legitima uma série de troços, como acordar tarde, ir a praia, tomar ceveja e jogar sinuca.
    Não estou preocupado em ser o melhor, só não quero ser medíocre, disso tenho certeza, nada de ser o "bucha" do mundo. O resto é silêncio para os ouvidos poderem trabalhar bem.
    Estou tentando viver sozinho, querendo não depender de nada ou ninguém. Ainda que ache tudo isso um saco.
    Essa semana eu pensei muito no pai que beijou a filha na boca e foi preso. Soltem esse homem e deixem que ele beije a filha.

    2009-09-03

    Nada de sono

    Cedo... tem dia que eu nem durmo, em outros durmo demais. Enquanto todos dormem estou acordado pensando em dormir, quando todos acordam estou dormindo pensando em acordar. Estou na contramão da vida. Sou do tipo Bon Vivant, não me aperto, dou sempre um jeito de tudo ter um jeito sem muito esforço ou esforço algum. Eu tive um pai que trabalhou demais, nao queria isso pra mim. Eu certamente não quero. Gosto de perder tempo com o lazer de não fazer nada. O que muitos chamam de vagabundo, chamo eu de eu mesmo. Posso dizer que as vezes sinto falta da velha agitação de outrora, mas de certo ela virá, enquanto isso vou curtindo aqui no meu barquinho ancorado na praia de mar calmo.

    2009-09-02

    Sou feliz?

    A coisa de ser só feliz é meio babaca. Sou mais feliz que triste. Na maior parte das vezes fico com a boca escancarada cheia de dentes de tanto dar risada, deve ser um certo alívio, como se algo fosse sair de mim a qualquer momento e então mostro os dentes para aliviar a tensão. Um amigo me falou que isso pode acontecer. Se trata de um animal que vive dentro de mim e que preciso controlar o tempo todo e a ai eu rio, rio para não liberta a fera. No fundo sou psicopata, dentro de mim mora um macaco pronto para cometer os crimes mais bárbaros, como cagar no meio da rua e jogar merda nos passantes inocentes, roubar um carro da polícia e entrar no mar de copacabana com a sirene ligada. Puxa, ai sim eu seria feliz. Tem tanto coisa que eu faria, só andaria nu, isso faz sentido o resto não.

    2009-09-01

    Mil coisas

    A despeito de mim só posso dizer que as vezes me assola uma fossa que "puta que me pariu". Bebo e nado no lodo fétido e verde da minha vida de solteiro obrigado. O pior solteiro é o que prefere estar casado. No fim prefiro a vida de casal, pelo menos eu tinha uma mulher que me reclamava nos ouvidos e me beijava a ponta do nariz e quando eu estava triste ela bebia comigo e me desafiava a sair da merda. Hoje sinto falta dessa peste que nem sei por onde anda. Me disseram que ela estava triste o que, sarcasticamente, me dá um prazer enorme. Mesmo sabendo que sua tristeza não tem a ver com o fato dela ter me dado um pé na bunda. Sim, tomei um pé na bunda. Convenhamos, quem iria querer viver com um artista duro como eu. Gordo, beberrão, falastrão e com um ego do tamanho da Argentina. De fato ela ainda me aturou muito. Sou cheio de defeitos horrorosos. Acho foi pelo meu senso de humor. Duvido que ela encontre alguém que a faça rir tanto quanto eu.
    Hoje acordei com vontade de ser outra coisa, uma árvore, uma pedra, uma galinha, um papel em branco esvoaçando por ai, um copo cheio de bebida alcoólica escorrendo pela garganta de um jovem intelectual; estava com vontade de ser qualquer coisa outra, uma mula sem cabeça, com cabeça eu já sou, um grão de areia nas dunas dos lençóis maranhense; qualquer coisa outra, queria ser a verdadeira garota de Ipanema, ou um cachorro de rua, a ideia de andar por ai livremente é bacana, sem ser atropelado; poderia ser uma caneca de café, um sabonete velho esquecido no tanque com fiapos de tecido seco; eu poderia ser um pombo suicida, ou uma peruca despenteada. Hoje eu poderia ser de tudo, só não queria ser esse troço insignificante e insuportável-mente que sou eu. Hoje acordei assim, sentindo uma falta da cadela que perdi por incapacidade, em vez disso, de me transformar em alguma coisa outra, parei em um bar sujo e bebi cachaça. A cachaça é um tipo de troço, de coisa, esquenta a moleira, então saí no tapa com o dono do bar só porque ele estava mais feliz que eu. Enfiei a cara na mão dele, apanhei com gosto de desgosto. Tem dia que é assim, mal posso esperar pelo dia de amanhã. Foda-se. Um dia vou ser outro tipo de coisa e ai quem sabe poderei ser simplesmente feliz.